Texto publicado em 27/02/11 no caderno Mundo do jornal O TEMPO - editora Alexandra Martins
Problemas de transliteração (traduzir entre dois sistemas de escrita) são café pequeno perto dos atuais embates no norte da África e Oriente Médio, onde se luta para desalojar os respectivos ditadores. Mas a discussão é boa, se lembrarmos que as mídias e a internet, quase sempre com um componente escrito (mesmo a TV), têm sido atores importantes desses movimentos sociais. Ao lidar com outros sistemas de escrita - como o do chinês ou do árabe - a transliteração é um guia da pronúncia original, e pode afetar a qualidade da informação.
Além disso, a gente esquece que escrita não é língua, mas uma técnica, vagamente precisa, de registro da língua (uma confusão que alimenta, no Brasil, o preconceito contra variações “populares” da fala). Assim, a transliteração tem que ter um pé na pronúncia original, e outro no ouvido do leitor, isto é, nas regras de escrita da língua do leitor. Isso também pode se tornar uma questão política.
É difícil achar cinco jornais brasileiros que concordem na grafia de Muammar al-Kadafi (ou Gaddafi, Qadhafi...). Tudo bem. Há diferenças consonantais no árabe sem correspondente gráfico no português, e decisões diferentes são válidas, se se mantiver a coerência interna. Recentemente, um repórter da Folha (24/02/2011) justificou o padrão do jornal pelo uso semelhante no “britânico Financial Times e pela rede Al Jazeera”.
Mas, como se vê em “Jazeera”, nem sempre a grafia do inglês segue as nossas regras. Língua e escrita são moeda política, e é preciso consumir com cautela padrões vindos de cima, seja do país de origem (como a China e seu sistema pinyin) ou de potências do noticiário internacional.
Mas, como se vê em “Jazeera”, nem sempre a grafia do inglês segue as nossas regras. Língua e escrita são moeda política, e é preciso consumir com cautela padrões vindos de cima, seja do país de origem (como a China e seu sistema pinyin) ou de potências do noticiário internacional.
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